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O arco mirou uma coruja vermelha. A flecha era de carvalho petrificado forjada com muito trabalho na grande Floresta de Pedra. Quem usava o arco era uma jovem muito corajosa de corpo esguio e cabelos negros. Sua pele era branca, mas estava ocultada pela lama negra do Pântano Necromântico. Estava ali há dois dias. Restavam-lhe um cantil de água pela metade, um alforge com sete flechas de madeira petrificada e uma flecha de vidro dourado. O pântano era o pior lugar para se permanecer por mais de um dia. O sol não alcançava nenhuma parte dele pois era mergulhado numa densa neblina com árvores de tronco escuro e tão altas que seus galhos se cruzavam na copa. Finalmente a flecha fora lançada, um fraco uivo e um baque seco. A coruja vermelha cai morta em cima de uma pedra. A flecha atravessara seu coração. As corujas vermelhas dos pântanos eram enormes. Ali a arqueira teria uma refeição para aquele dia, e no outro, poderia não ter. No fundo de seu alforge, embrulhado com um couro de cervo das montanhas, havia um instrumento capaz de ressuscitar os mortos. Mas ela desconhecia seu uso, apenas sabia que a Flauta dos Mortos era um objeto deixado pelos deuses para os homens, mas como não souberam usá-lo com sabedoria, foi lançado ao Pântano Necromântico, onde as almas das piores criaturas se fazem presente quando a noite chega. Ali, a arqueira valente sabia como sobreviver e não cair nos encantos das almas das criaturas. Ela não ousou retirar do alforge a flauta. Para usá-la, ela precisaria do Livro dos Aldeões, que sua avó guardava em algum lugar da Floresta do Norte. A noite ali poderia ser tranquila se ignorar o cântico dos mortos e das criaturas, mas o Pântano Necromântico guardava outro perigo, a Fera dos Dentes de Marfim.
por Ronaldo Filho
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