~Eu... Você~
Segue abaixo a segunda parte do conto em construção em parceria com Carolina Gama! Acompanhe também em seu blog:
3 – CHUVA E PRAÇA
Lembro-me de quando a vi pela primeira
vez, Rachel. Foi como uma luz entre as trevas daquele dia. Os colunistas
levantaram uma queixa contra um político e eu me recusei a fazer o mesmo. Fui
praticamente ignorado desde então e rebaixado a escrever colunas sobre assuntos
populares e acontecimentos fulos. Já fazia três meses desde que isso aconteceu.
Naquela tarde, a chuva caía fina e preguiçosa. Quando já não me aguentava mais,
eu simplesmente desliguei o computador, peguei meu casaco e saí.
Embora a chuva fosse daquelas
intermináveis e finas, o sol aparecia entre as nuvens, um espetáculo exuberante
da natureza. Não me importei em deixar as gotas caírem em cima de mim. Mas foi
libertador tomar aquele banho natural enquanto eu cruzava a praça. Sentei num
banco, molhado, mas não me importava.
O vento balançava as folhas, os galhos,
espalhando aquelas grandes gotas geladas acumuladas. Os pássaros não paravam de
cantar como que em agradecimento por aquela maravilhosa chuva. Eu poderia
cantar também, mas sou péssimo, então fechei meus olhos e encostei a nuca no
banco.
Parecia tudo tão tranquilo, até que
escutei passos e com ele uma doce voz:
- Que dia maluco! Uma hora chove, uma
hora faz calor.
Aquele anjo sentou ao meu lado. Olhei
para ela, cabelos presos e molhados, assim como a dona deles.
- Oi! Sou Rachel!
Fiquei alguns segundos pasmo. Por que
ela estava puxando conversa?
Por Ronaldo Filho
4 – SORRISO
Eu não sabia o que dizer. Você, sentado
e deixando a chuva cair, me lembrou de quando eu desobedecia meus pais e saía
na chuva quintal afora.
Naquela manhã tudo correu bem, até que
uma de minhas pacientes resolveu falar dos sentimentos que reprimia e me ocupou
por mais de uma hora. Sei que é meu trabalho, eu adoro, mas confesso que me irritei
com ela. Fora isso, eu estava bem. Já tinha planejado um bom filme e um bom
jantar para quando chegasse em casa, mas não antes de passar na sorveteria da
esquina. O dia estava tão bonito, achei que daria um perfeito dia de preguiça.
Depois de marcar mais algumas consultas,
sentei em minha mesa e concluí que ao menos por um dia eu deveria tentar não
ser a especialista. Eu acho interessante como consigo usar de clareza nas
situações alheias e não consigo ser clara comigo mesma. E então meu celular
tocou, o telefone do consultório tocou e aquele barulho todo me fez apagar a
luz e sair.
Eu não reparei na chuva até que deixei o
consultório. E também não pensei em pegar minhas chaves antes de sair. Você
sabe como eu não sou precavida em relação ao guarda-chuva. Notei quando você
encostou a cabeça no banco porque você foi a primeira coisa que eu vi. Mas foi
estranho, porque me perguntei o motivo de você estar sozinho, ao invés de
apressar o passo. Talvez eu estivesse trabalhando demais.
Ainda bem que você riu de mim quando eu
falei sozinha. Acho que resolvi ser simpática com um estranho porque ele estava
na mesma situação que eu, molhado e perdido. E, é claro, porque ele tinha um
sorriso lindo.
Por Carolina Gama